rock in Rio 3º dia


Em dia para religiosos, os fanáticos foram recompensados com apresentações impecáveis

Se você gostou do segundo dia, diga-se memorável, talvez tenha gostado do terceiro. Esse “talvez” aparece porque os roqueiros que subiram ao palco neste dia, além de lendas vivas e patrimônio do rock, carregam uma aura dogmática em volta si, numa espécie de rito religioso.
Os mais fanáticos absolutamente, os mais fiéis e orgulhosos. Estes eram os fãs. Tamanho fanatismo poderia transformar o terceiro dia no mais vibrante de todos, onde, felizmente, houve entrega de ambos os lados, ou seja, transformou.
Para abrir o palco do heavy metal, a banda nacional Glória. Perto dos deuses que entrariam em seguida, os caras eram meros mortais, intrusos numa terra que não eram deles, mas que por uma ironia dos próprios deuses, foram convidados. Não vou dizer que os caras foram mal, mas foram vaiados. O importante é que sobreviveram ao sacrilégio.
Em seguida, quem sobre ao palco é ainda outro mortal, mais conhecido internacionalmente, tão conhecido quanto o anterior por aqui, Coheed and Cambria. Sem as vaias, mas sem os atos de devoção, cumpriram seu papel, quem sabe outro festival, um futuro, mas não no presente.
Os deuses começaram a pisar no palco com pouco mais de 20 minutos de atraso. Os caras são os caras, não apenas para meros fãs e sim para toda uma geração de músicos, inclusive para o Metallica. Estou falando da banda Motörhead, liderada pela lenda Lemmy Kilmister. De cara, um humilde Lemmy diz: “Boa noite! Nós somos o Motörhead e nós tocamos rock and roll” e começou os primeiros acordes de ‘Iron Fist’, dando início ao bom, simples e velho rock and roll em sua forma mais crua no festival que tem o gênero em seu nome.
Quem assistiu ao show que a banda fez ainda em abril deste ano conhece o set list de  ‘The World Is Yours Tour’, que passa pelo país pela segunda vez este ano, o que significa que os clássicos não ficaram de fora, como ‘Ace of spades’, ‘Bomber’ e ‘Going to Brazil’, uma declaração de amor ao país. “Nós os amamos caras”, afirmou Lemmy. Enfim, o público estava satisfeito, mas nem imaginava o que teria pela frente, nem mesmo o mais fiel de todos.
A partir das 23h em ponto, a galera vai abaixo com oSlipknot, do vocalista  Corey Taylor, que havia tocado no sábado com o Stone Sour, outra grande apresentação, que poderia muito bem fazer o domingo. Simbolizando o mau, exibiu  sua performance teatral como uma espécie de demônios, que tem como características as máscaras assustadoras usadas por todos integrantes, com “Wait And Bleed” e “The Blister Exists”.
“Essa é pode ser uma das melhores plateias para quem já tivemos o privilégio de tocar”, declarou Taylor antes de pedir a ajuda da multidão para começar “Psychosocial”. Prova disso deram dois integrantes do Slipknot que caminharam pelos corredores deixados em meio ao show, subiram em duas estruturas montadas a vários metros do palco e se jogaram nas mãos dos fãs em gigantescos moshs. De arrasar. A sintonia entre público e banda assustava até mesmo quem estava em casa assistindo. Algo impensável para o festival tão prolixo. Mas ainda tinha mais.
Depois de uma apresentação tão fulgurante e feroz, os caras do Metallica sentiram que precisariam se superar, apesar do prestígio, pois provavelmente 70% do público comprou o ingresso por causa deles. O público estava exausto. “Vocês estão se sentindo bem? Nós nos sentimos melhor. Queremos que vocês se sintam como nós. Esse é o desafio”, disse Hetfield antes de tacar combustível na plateia com a única música do disco “Reload” tocada na noite, seguida da faixa que dá nome ao segundo álbum do grupo, “Ride the lightning”. Hammet emendou uma base sozinho e logo começou a rabiscar o braço da guitarra (usou de Les Paul a Jackson).
“Estão cansados? Ou estão apenas se aquecendo? Estão com vontade de cantar?”, indagou Hetfield, que então passou a entoar o longo refrão de um dos maiores sucessos do “Black Album” com o público cantando cada sílaba. Mas só da primeira parte. Na segunda, muita gente tropeçou. “Sad but true”. Eles iriam fazer o show mais longo do festival com mais de 2 horas de apresentação.
Mas o maior coro da noite, algo que até os mais pagãos poderia pensar, foi na balada “Nothing Else Matters”, lançada depois da pancada “Blackened” e de Trujillo solar desafinando o baixo ao vivo, a ponto de fazer tremer os woofers do sistema de som do festival. Hammet ainda chegou a tocar rapidamente “Samba de uma nota só”, saiu rindo. Depois de “Enter Sandman”, para fechar, a banda atendeu ao grito de “bis” da galera com mais músicas, fechando como o clássico, “Seek And Destroy”, para fiel nenhum botar defeito.
Que noite! Que espetáculo do rock! O festival poderia encerrar, mas não vai. Quem assume daqui pra frente terá uma enorme responsabilidade. Dúvido que darão conta. Queimei minha língua, em partes, aposto nela de novo.

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